sábado, 12 de novembro de 2011

Harry Potter e a Pedra Filosofal - 11º cap. Quadribol

QUANDO ENTROU NOVEMBRO o tempo esfriou muito. As serras em torno da escola viraram cinza-gelo e o lago parecia metal congelado. Toda a manhã o chão se cobria de geada. Hagrid era visto das janelas dos andares superiores do castelo degelando vassouras no campo de Quadribol enrolado num casacão de pele de toupeira, com luvas de coelho e enormes botas de castor.
Começara a temporada de Quadribol.
No Sábado, Harry estaria jogando sua primeira partida depois de semanas de tratamento: Grifinória contra Sonserina. Se Grifinória ganhasse, subiria para o segundo lugar no Campeonato das Casas. Quase ninguém vira Harry jogar porque Olívio decidira que, sendo uma arma secreta, a participação de Harry deveria ser mantida em segredo. Mas de alguma forma a notícia de que jogaria como apanhador vazara e Harry não sabia o que era pior, se as pessoas dizerem que ele seria brilhante ou dizerem que iriam ficar correndo embaixo dele com um colchão.
Era realmente uma sorte que Harry agora tivesse Hermione como amiga. Não sabia como poderia ter dado conta dos deveres de casa sem ela, diante dos treinos de Quadribol convocados por Olívio à última hora. Ela também lhe emprestara o livro Quadribol Através dos Séculos, que acabara rendendo uma leitura muito interessante.
Harry aprendera que havia setecentas maneiras de cometer faltas no Quadribol e que todas haviam ocorrido durante a Copa Mundial de 1473, que os apanhadores eram em geral os jogadores menores e mais velozes e que a maioria dos acidentes graves no Quadribol parecia acontecer com eles, que embora a pessoas raramente morressem jogando Quadribol, havia juízes que tinham desaparecido e reaparecido meses depois no deserto do Saara.
Hermione tornara-se menos tensa com relação às infrações ao regulamento desde que Harry e Rony a tinham salvado do trasgo montanhês e se tornara uma pessoa mais simpática. Na véspera da primeira partida de Quadribol de Harry, os três foram até a quadra congelada durante o intervalo das aulas, e ela fizera aparecer para eles um fogo azulado muito vivo que podia ser levado para toda parte em um frasco de geléia. Achavam-se parados de costas para o fogo, se esquentando, quando Snape atravessou o pátio.
Harry reparou logo que Snape estava mancando. Harry, Rony e Hermione se aproximaram mais para esconder o fogo com o corpo, tinham certeza de que era proibido. Infelizmente alguma coisa em suas caras culpadas atraiu a atenção de Snape. Ele veio mancando até onde eles estavam. Não vira o fogo, mas parecia estar procurando uma razão para ralhar com eles.
— Que é que você tem aí, Potter?
Era O Quadribol Através dos Séculos. Harry mostrou-o.
— Os livros da biblioteca não podem ser levados para fora da escola — falou Snape — Me dê aqui. Menos cinco pontos para Grifinória.
— Ele acabou de inventar essa regra — murmurou Harry com raiva, enquanto Snape se afastava — Que será que houve com a perna dele?
— Não sei, mas espero que esteja realmente doendo — falou Rony com azedume.
A Sala Comunal da Grifinória estava muito barulhenta aquela noite. Harry, Rony e Hermione sentaram-se junto a uma janela. Hermione verificava os deveres de Harry e Rony para a aula de Feitiços. Ela nunca os deixava copiar (“Como é que vocês vão aprender?”), mas ao lhe pedirem para ler os trabalhos, eles recebiam as respostas certas do mesmo jeito.
Harry sentia-se inquieto. Queria de volta Quadribol Através dos Séculos, para se distrair do nervosismo que a partida do dia seguinte estava lhe provocando. Por que deveria ter medo de Snape? Levantou-se e disse a Rony e Hermione que ia pedir a Snape para lhe devolver o livro.
— Antes você do que eu — responderam eles juntos, mas Harry tinha a impressão que Snape não iria recusar se houvesse outros professores ouvindo.
Ele foi à Sala dos Professores e bateu à porta. Não obteve resposta. Bateu outra vez. Nada. Talvez Snape tivesse deixado o livro na sala? Valia a pena tentar. Entreabriu a porta e espiou para dentro e deparou com uma cena horrível.
Snape e Filch estavam lá dentro sozinhos. Snape segurava as vestes acima do joelho. Uma das pernas sangrava, lacerada. Filch entregava ataduras a Snape.
— Droga — dizia Snape — Como é que se pode ficar de olho em três cabeças ao mesmo tempo?
Harry tentou fechar a porta sem fazer barulho, mas...
— Potter!
O rosto de Snape contorceu-se de fúria ao mesmo tempo em que ele largava as vestes para esconder a perna. Harry engoliu em seco.
— Eu vim saber se o senhor poderia devolver o meu livro...
— SAIA! SAIA!
Harry saiu, antes que Snape pudesse descontar algum ponto da Grifinória. E voltou correndo para baixo.
— Conseguiu? — perguntou Rony quando Harry se reuniu a eles — Que aconteceu?
Num murmúrio, Harry lhes contou o que vira.
— Sabe o que isso significa? — terminou sem fôlego — Ele tentou passar pelo cachorro de três cabeças no Dia das Bruxas! Era para lá que estava indo quando o vimos. Ele quer a coisa que o cachorro está guardando! E aposto a minha vassoura como ele deixou aquele trasgo entrar, para distrair a atenção de todos!
Os olhos de Hermione estavam arregalados.
— Não. Ele não faria isso. Sei que ele não é muito simpático, mas não tentaria roubar uma coisa que Dumbledore estivesse guardando a sete chaves.
— Sinceramente, Hermione, você pensa que todos os professores são santos ou coisa parecida — disse-lhe Rony com rispidez — Concordo com Harry, acho que Snape faria qualquer coisa. Mas o que é que ele está procurando? O que é que o cachorro está guardando?
Harry foi se deitar com a cabeça zunindo com aquela pergunta. Neville roncava alto e Harry não conseguia dormir. Tentou esvaziar a cabeça, precisava dormir, tinha de dormir, ia jogar sua primeira partida de Quadribol dentro de algumas horas, mas a expressão no rosto de Snape quando Harry vira sua perna era difícil de esquecer.
O dia seguinte amanheceu muito claro e frio. O Salão Principal estava impregnado com o cheiro delicioso de salsichas e com a conversa animada de todos que aguardavam ansiosos uma boa partida de Quadribol.
— Você tem que comer alguma coisa.
— Não quero nada.
— Só um pedacinho de torrada — tentou persuadi-lo Hermione.
— Não estou com fome.
Harry se sentia péssimo. Dentro de uma hora estava entrando no campo.
— Harry, você precisa de energia — disse Simas Finnigan — Os apanhadores são sempre os que acabam aleijados pelo outro time.
— Obrigado Simas — respondeu Harry, observando Simas amontoar ketchup sobre as salsichas.
Aí pelas onze horas a escola inteira parecia estar nas arquibancadas que cercavam o campo de Quadribol. Muitos estudantes tinham levado binóculos. Os lugares ficavam no alto, mas às vezes, ainda assim era difícil ver o que acontecia.
Rony e Hermione se reuniram a Neville, Simas e Dino, o fã do time de segunda divisão, na fileira do alto. Como uma surpresa para Harry eles tinham pintado uma grande bandeira em um dos lençóis que Perebasroera. Dizia: “Potter para Presidente” e Dino, que era bom em desenho, tinha pintado o grande leão de Grifinória embaixo. Depois Hermione apelara para um feiticinho para fazer a tinta brilhar multicolorida.
Entrementes, nos vestiários, Harry e o restante do time estavam vestindo as roupas vermelhas de Quadribol (Sonserina iria jogar de verde).
Olívio pigarreou pedindo silêncio.
— Muito bem, rapazes.
— E moças — acrescentou a artilheira Angelina Johnson.
— E moças — concordou Olívio — Está na hora.
— O jogaço — disse Fred.
— O jogaço que estávamos esperando — explicou Jorge.
— Já conhecemos o discurso de Olívio de cor — comentou Fred para Harry — Fizemos parte do time no ano passado.
Calem a boca, vocês dois — mandou Olívio — Este é o melhor time que Grifinória já teve nos últimos anos. Vamos vencer. Sei que vamos.
E encarou os jogadores como se dissesse “Ou vão ver”.
— Certo. Está na hora. Boa sorte para todos.
Harry acompanhou Fred e Jorge na saída do vestiário e, esperando que seus joelhos não cedessem, entrou no campo debaixo de vivas. Madame Hooch era a juíza. Estava parada no meio do campo esperando os dois times, de vassoura na mão.
— Quero ver um jogo limpo meninos — disse quando estavam todos reunidos à sua volta.
Harry reparou que ela parecia estar falando particularmente para o capitão de Sonserina, Marcos Flint um aluno do quinto ano. Harry achou que Flint tinha sangue de trasgo. Pelo canto do olho viu a bandeira, que piscava “Potter para Presidente” tremulando sobre as cabeças dos espectadores. Seu coração perdeu um compasso. Ele se sentiu mais corajoso.
— Montem nas vassouras, por favor — Harry subiu na sua Nimbus 2000.
Madame Hooch puxou um silvo forte no seu apito de prata. Quinze vassouras se ergueram no ar. Fora dada a partida.
E a goles foi de pronto rebatida por Angelina Johnson da Grifinória, que ótima artilheira é essa menina, e bonita, também.
— JORDAN!
Desculpe professora.
O amigo dos gêmeos Weasley, Lino Jordan, estava irradiando a partida, vigiado de perto pela Profª. McGonagall.
Ela está realmente jogando com força total, um passe lindo para Alicia Spinnet, um bom achado de Olívio Wood, no ano passado ficou no time de reserva, de volta a Johnson e... não, Sonserina tomou a goles, o capitão da Sonserina rouba a goles e sai correndo. Marcos está voando como uma águia lá no alto, ele vai mar.. não, foi impedido por uma excelente intervenção do goleiro da Grifinória, Olívio, e Grifinória fica com a goles, no lance a artilheira Cátia Bell da Grifinória, dá um belo mergulho em volta de Marcos e sobe pelo campo e... ai, essa deve ter doído, ela levou um balaço na nuca, perdeu a goles para Sonserina. Agora Adriano Pucey corre na direção do gol, mas é bloqueado por um segundo balaço arremessado por Fred ou Jorge Weasley, é difícil dizer qual dos dois, em todo o caso uma boa jogada do batedor da Grifinória, e Johnson tem outra vez a posse da goles, o caminho está livre à sua frente e lá vai ela, realmente voando, desvia-se de um balaço veloz, as balizas estão à sua frente... vamos agora, Angelina... o goleiro Bletchley mergulha, não chega a tempo... PONTO PARA GRIFINÓRIA!
A torcida da Grifinória enche de berros o ar frio, e a torcida da Sonserina, de lamentos.
— Cheguem para lá, vamos.
— Hagrid!
Rony e Hermione se apertaram para abrir espaço para Hagrid se sentar com eles.
— Estive assistindo da minha casa — disse Hagrid, indicando um grande binóculo pendurado ao pescoço — Mas não é a mesma coisa que assistir no meio da multidão. Nem sinal do pomo ainda, não é?
— Não — respondeu Rony — Harry ainda não teve muito que fazer.
— Pelo menos não se machucou, já é alguma coisa — disse Hagrid, levantando o binóculo e espiando o pontinho que era Harry lá no céu.
Muito acima deles, Harry sobrevoava o jogo, procurando um sinal do pomo. Isto fazia parte da estratégia montada por ele e Olívio. “Fique fora do caminho até avistar o pomo, dissera Olívio, Não queremos que você seja atacado sem necessidade”. Quando Angelina marcou, Harry tinha feito um loops para extravasar a emoção. Agora voltara a procurar o pomo.
Uma vez avistou um lampejo dourado, mas era apenas outro reflexo do relógio de um dos gêmeos e outra vez um balaço resolveu disparar em sua direção e mais parecia uma bala de canhão, mas Harry se esquivou e Fred veio atrás dela.
— Tudo bem ai, Harry? — ele tivera tempo de gritar ao rebater o balaço com fúria na direção de Marcos Flint.
Sonserina de posse da goles — Lino Jordan continua narrando — O artilheiro Pucey se desvia de dois balaços, dos dois Weasley, da artilheira Bell e voa para, esperem aí, será o pomo?
Correu um murmúrio pelas torcidas quando viram Adriano Pucey deixar cair a goles, ocupado demais em espiar por cima do ombro o lampejo dourado que passara por sua orelha esquerda.
Harry a viu. Tomado de grande agitação, mergulhou em direção ao rastro dourado. O apanhador de Sonserina, Terêncio Higgs, vira o pomo também. Cabeça a cabeça, eles se precipitaram em direção ao pomo, todos os artilheiros pareciam ter esquecido o que deveriam fazer, pararam no ar, para observar. Harry foi mais rápido que Terêncio, estava vendo a bolinha redonda, as asas batendo, disparando para o alto, imprimiu mais velocidade...
Ohhh! Um rugido de raiva saiu da torcida da Grifinória em baixo.
Marcos Flint tinha bloqueado Harry de propósito e a vassoura de Harry perdeu o rumo, Harry segurou-se para não cair.
— Falta! — gritou a torcida da Grifinória.
Madame Hooch dirigiu-se aborrecida a Marcos e em seguida deu a Grifinória um lance livre diante das balizas. Mas na confusão, é claro, o pomo de ouro desaparecera de vista outra vez.
Nas arquibancadas, Dino Thomas berrava.
— Fora com ele, juíza! Cartão vermelho!
— Isto não é futebol, Dino — lembrou Rony — Você não pode expulsar um jogador do campo no Quadribol, e o que é um cartão vermelho?
Mas Hagrid ficou do lado de Dino.
— Deviam mudar as regras, Marcos podia ter derrubado Harry no ar.
Lino Jordan estava achando difícil se manter neutro.
Então, depois dessa desonestidade óbvia e repugnante...
— Jordan! — ralhou a Profª. McGonagall.
Quero dizer, depois dessa falta clara e revoltante...
Jordan, estou lhe avisando...
Muito bem, muito bem. Marcos quase matou o apanhador da Grifinória, o que pode acontecer com qualquer um, tenho certeza, portanto uma penalidade a favor da Grifinória, Spinnet bate, para fora, sem problema, e continuamos o jogo, Grifinória ainda com a posse da bola.
Foi quando Harry se desviou de mais um balaço, que passou com perigoso efeito ao lado de sua cabeça, que a coisa aconteceu. Sua vassoura deu uma perigosa e repentina guinada. Por uma fração de segundo ele achou que ia cair. Segurou a vassoura com firmeza com as duas mãos e os joelhos. Nunca sentira nada parecido antes.
Aconteceu outra vez.
Era como se a vassoura estivesse tentando derrubá-lo. Mas uma Nimbus 2000 não decidia de repente derrubar seu cavaleiro. Harry tentou voltar em direção às balizas da Grifinória, tencionava avisar Olívio para pedir tempo, e então percebeu que a vassoura se descontrolara. Não conseguia virá-la. Mas conseguia dirigi-la. Ela ziguezagueava pelo ar e de vez em quando fazia movimentos bruscos que quase o desequilibravam.
Lino ainda comentava.
Sonserina ainda com a posse, Marcos com a goles, passa por Spinnet, por Bell... atingido no rosto com força por um balaço, espero que tenha quebrado o nariz, é brincadeira, professora, Sonserina marca. Ah, não!
A torcida da Sonserina vibrava. Ninguém parecia ter notado que a vassoura de Harry estava se comportando de maneira estranha. Carregava-o lentamente cada vez mais alto, afastando-se do jogo, dando guinadas e corcoveando pelo caminho.
— Não sei o que Harry acha que está fazendo — resmungou Hagrid. E espiou pelo binóculo — Se eu não entendesse da coisa, eu diria que perdeu o controle da vassoura... mas não pode ser...
De repente, as pessoas em todas as arquibancadas estavam apontando para Harry no alto. Sua vassoura começara a jogar para um lado e para o outro, e ele mal conseguia se segurar. Então a multidão gritou. A vassoura dera uma guinada violenta e Harry desmontara. Estava agora pendurado, agüentando-se apenas com uma mão.
— Será que aconteceu alguma coisa à vassoura quando Marcos o bloqueou? — cochichou Simas.
— Não pode ser — respondeu Hagrid, a voz trêmula — Nada pode interferir com uma vassoura a não ser uma magia negra muito poderosa, nenhum garoto poderia fazer isso com uma Nimbus 2000.
Ao ouvir isso, Hermione agarrou o binóculo de Hagrid, mas ao invés de olhar para Harry no alto, começou a espiar agitadíssima para a multidão.
— Que é que você está fazendo? — gemeu Rony, o rosto branco.
— Eu sabia! — exclamou Hermione — Snape. Olhe.
Rony agarrou o binóculo, Snape estava no centro das arquibancadas do lado oposto. Tinha os olhos fixos em Harry e movia os lábios sem parar.
— Ele está fazendo alguma coisa, ele está azarando a vassoura — disse Hermione.
— Que vamos fazer?
— Deixem comigo.
Antes que Rony pudesse dizer mais nada, Hermione desapareceu. Rony tornou a apontar o binóculo para Harry.
A vassoura vibrava com tanta força, que era quase impossível Harry se agüentar por muito mais tempo. A multidão se levantara, acompanhara com os olhos, aterrorizada, os gêmeos Weasley voaram para tentar transferir Harry a salvo para uma de suas vassouras, mas não adiantou, toda vez que se aproximavam dele, a vassoura subia mais alto. Mantiveram-se em um nível mais baixo fazendo círculos sob Harry, obviamente na esperança de apará-lo se caísse...
Marcos Flint apoderou-se da goles e marcou cinco vezes sem ninguém reparar.
— Anda logo, Hermione — murmurou Rony desesperado.
Hermione abrira caminho até a arquibancada onde estava Snape e agora corria pela fileira atrás dele, nem parou para pedir desculpas quando derrubou o Prof. Quirrell de cabeça na fileira da frente.
Ao chegar perto de Snape, ela se agachou puxou a varinha e disse algumas palavras bem escolhidas. Chamas vivas e azuladas saíram de sua varinha para a barra das vestes de Snape. Levou talvez uns trinta segundos para Snape perceber que estava em chamas. Um grito súbito confirmou que Hermione conseguira o seu intento. Recolhendo o fogo num frasquinho que trazia no bolso ela retrocedeu depressa pela mesma fileira.
Snape nunca saberia o que acontecera.
Foi o suficiente.
No alto, Harry conseguiu de repente voltar a montar a vassoura.
— Neville, pode olhar! — disse Rony.
Neville passara os últimos cinco minutos soluçando no casaco de Hagrid.
Harry estava voando rápido de volta ao chão quando a multidão o viu levar a mão à boca como se fosse vomitar, ele pousou no campo de gatas, tossiu e uma coisa dourada caiu em sua mão.
— Apanhei o Pomo! — gritou, mostrando-o no alto, e o jogo terminou na mais completa confusão.
Ele não agarrou o pomo, ele quase o engoliu — continuava a esbravejar Flint vinte minutos depois, mas não fez diferença, Harry não infringira nenhuma regra e Lino Jordan continuava a gritar alegremente o resultado, Grifinória ganhara por cento e setenta pontos a sessenta.

* * *

Harry, porém não ouvia nada disso. Hagrid lhe preparava no casebre uma xícara de chá forte, em companhia de Rony e Hermione.
— Foi Snape — explicou Rony — Hermione e eu vimos. Ele estava azarando a sua vassoura, murmurando, não despregava os olhos de você.
— Bobagens — disse Hagrid, que não ouvira uma única palavra do que se passara ao seu lado nas arquibancadas — Por que Snape faria uma coisa dessas?
Harry, Rony e Hermione se entreolharam, imaginando o que lhe contar. Harry decidiu contar a verdade.
— Descobri uma coisa — falou a Hagrid — Ele tentou passar pelo cachorro de três cabeças no Dia das Bruxas. Levou uma mordida. Achamos que estava tentando roubar o que o cachorro está guardando.
Hagrid deixou cair o bule de chá.
— Como é que vocês sabem da existência do Fofo?
— Fofo?
— É... é meu... comprei-o de um grego que conheci num bar no ano passado. Emprestei-o a Dumbledore para guardar o...
— O quê? — perguntou Harry ansioso.
— Não me pergunte mais nada — retrucou Hagrid com impaciência — É segredo.
— Mas Snape está tentando roubá-lo.
— Bobagens — repetiu Hagrid — Snape é professor de Hogwarts, não faria uma coisa dessas.
— Então por que ele tentou matar Harry? — perguntou Hermione.
Os acontecimentos daquela tarde sem dúvida tinham mudado a opinião dela sobre Snape.
— Eu conheço uma azaração quando vejo uma, Hagrid, já li tudo sobre o assunto! A pessoa precisa manter contato visual e Snape nem ao menos piscava, eu vi!
— Estou dizendo que vocês estão enganados! — falou Hagrid com veemência — Não sei por que a vassoura de Harry estava agindo daquela forma, mas Snape não iria tentar matar um aluno! Agora, escutem bem os três: vocês estão se metendo em coisas que não são de sua conta. Isto é perigoso. Esqueçam aquele cachorro e esqueçam o que ele está guardando, isto é coisa do Prof. Dumbledore com o Nicolau Flamel...
Ah-ah! — exclamou Harry — Então tem alguém chamado Nicolau Flamel metido na jogada, é?
Hagrid parecia furioso consigo mesmo.

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