sexta-feira, 29 de julho de 2011

Livro La Isla de Eudamón Capítulo 1 "A Mansão Inchausti" Parte XII (Parte Final)

                                                            "A Mansão Inchausti"
                                             Parte XII (Final)

*Desculpe por não ter postado ontem. Essa parte é a última do capítulo e fala da Cielo.


A comoção não ocorreu quando abandonaram ela no bosque. Quando ela chegou no bosque, nessa noite de tempestade, já estava com amnesia. O que a deixou prisioneira num lugar sem tempo em sua cabeça foi a morte de sua mãe. Ángeles Inchausti estava tremendo num escuro corredor da mansão de sua avó. Em um quarto, atrás de uma porta encostada, sua mãe gritava e chorava. Um homem estranho de cachos e uma mulher sinistra toda vestida de preto, com um turbante e uns olhos enormes, pretos, estavam com sua mãe...
Ao correr de um tempo que pra ela pareceu eterno, escutou um último grito de sua mãe e o choro de um bebê. Nada mais. A posta se abriu ao passar de alguns minutos. A mulher segurava seu irmão ou irmã, não sabia o que era. E o homem lhe disse, quase sem olha-la: -Mamãe bateu as botas. Passou para uma vida melhor. –Ele quer dizer que ela morreu- traduziu a mulher vendo que a garota não entendia. Esse foi o final. Aí acabou Ángeles Inchausti. O que continuou foi um sonho esquisito. Como uma madeira no mar, ela se movia de um lado para o outro, sem saber onde estava. Quando Bartolomé e Justina a abandonaram no bosque, nessa fria noite de tempestade, ela já não sabia mais quem era. E também não sabia que na manhã seguinte, quando um velho homem que cortava lenha no bosque a encontrou, tremendo ao lado de uma árvore. O homem a levou ao trailer onde vivia com sua mulher. Eram os donos de um modesto circo itinerante, o Circo Mágico. Os dois já eram idosos e tinham perdido há alguns anos a sua única filha. Se compadeceram dessa pobre garota perdida no bosque, que apenas falava. Não sabia onde vivia nem como se chamavam os seus pais. Também não se lembrava de seu próprio nome. Amanda e Aldo Mágico eram muito boa gente e faziam sempre o correto, por isso comunicaram o achado na polícia, que descobriu que não tinha nenhuma garota perdida na zona. Publicaram sua foto nos jornais, mas ninguém a reclamava. Enquanto isso, o juiz de menores decidiu que a garota continuaria com o casal Mágico, até deram como sua família. Amanda era muito doce e cuidava dela com muito esmero. Começou a chama-la de Cielo, carinhosamente, e o que surgiu como um modo afetuoso de chama-la, se transformou com o tempo em seu nome. Assim nascia Cielo Mágico. Cielo não parecia sentir falta de sua antiga vida. Não só não a lembrava, mas não esforçava para lembrar. A única coisa que conservava de seu passado era uma pulseira de miçangas, com um símbolo esquisito. Se sentia feliz vivendo ali. Era a mimada de todos os artistas do circo, passava o dia inteiro no trailer das crianças, voltava sempre com algum machucado do trailer dos malabaristas, ou toda pintada depois de star com os palhaços. Mas o que realmente a fascinava eram os equilibristas. O senhor Pierre Morel, que era o patriarca da família, não permitiu que Cielo se aproximasse da corda bamba durante muito tempo. –Para subir na corda bamba tem que saber se pagar na vida- dizia. Passaram meses, e nunca puderam dar o paradeiro da família da pequena Cielo. Finalmente o juiz concedeu ao casal Mágico a tutela da pequena, a quem puderam registrar. Cielo Mágico já tinha uma identidade. Assim, dia a dia, mês a mês, ano após ano, Cielo foi crescendo feliz num mundo fantástico. Ali não tinha animais típicos de circo, já que os Mágico não concordavam em utiliza-los nas provas e números circenses, mas tinha cachorros. Cada trailer tinha dois ou três cachorros. Cielo conhecia todos pelo nome. Passava seu dia entre os artistas, lança-chamas e malabares, entre pernas de pau e violões. O circo era um aglomerado de artistas de diversas nacionalidades, por isso Cielo começou a desenvolver uma forma de falar muito particular. Era palhaça com palhaços, ilusionista com os ilusionistas e bailarina com os bailarinos. Mas a única coisa que não podia fazer era corda bamba. Será por isso que seu grande desejo era ser equilibrista? Quando fez quinze anos, o senhor Morel chegou com uma grande vara de equilíbrio, e como presente de aniversário comunicou que estava disposto a aceita-la como aprendiz. Cielo Mágico começou a dar seus primeiros passos na corda bamba. Começou no chão, e depois foram aumentando a altura. Com grande destreza fois se transformando na melhor equilibrista que o senhor Morel tinha visto na sua vida. Quando fez dezoito anos, teve sua grande estreia profissional. Tinha se transformado numa mulher de beleza única, de uma grande qualidade. E o circo Mágico ficou mais bonito com a nova artista. Cielo amou muito a seus avozinhos, como ela chamava com grande afeto ao casal que a tinha criado com uma filha. Já eram idosos, e temia não poder aproveita-los durante mais vários anos. Quando Cielo tinha dezenove, morreu Aldo , e dois meses depois, Amanda, que não sabia viver sem ele. Cielo voltou a ficar órfã pela segunda vez. Mas já era uma mulher bem parada na vida, por isso era uma excelente equilibrista, como dizia o senhor Morel. Sem os avozinhos, o circo começou a se dissolver. A solução foi vende-lo, por nada, a um empresário de uma duvidosa procedência, que manteve os artistas mas, diferente de seus donos originais, era um explorador. De pouco em pouco os artistas começaram a ir, e Cielo entendeu que chegava o momento de fazer sua última apresentação. No final de março de 2007 se despediria sobre a corda bamba. Mas um incidente involuntário precipitou sua partida.   

Ia no ar, se podia respirar, se podia pressentir. A magia e o amor chegariam na mansão Inchausti. Em 21 de março de 2007, enquanto Marianella entrava pela primeira vez na Fundação BB, Nicolás Bauer, a ponto de se comprometer, tentava em vão desembaraçar o cabelo de Cristóbal no quarto do hotel. Malvina corria desesperada pela mansão terminando os preparativos da festa.
Rama, Lleca e Alelí entravam no Circo Mágico, seguindo a ordem de Bartolomé, com a intenção de roubar. No mesmo instante, Cielo deslumbrava o público com mais acrobacias e o avião em que Thiago viajava ia serenamente na pista. Enquanto tudo isso acontecia simultaneamente,   como se cruzassem linhas que uniriam em ponto os diferentes destinos, de frente a mansão Inchausti uma misteriosa mulher de cabelo branco observava o relógio com um sorriso esperançoso.

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