quinta-feira, 23 de junho de 2011

Livro La Isla de Eudamón: Capítulo 1 "A Mansão Inchausti" Parte V

                                    A Mansão Inchausti
                                             Parte V

*Desculpe por não ter postado mais cedo. Hoje mostra a história de Lleca (ou Zeca em português) antes de chegar a mansão. Terça é a história do Tacho (ou Tato) e quinta da Jazmín.


Lleca era, sobretudo, um garoto simples, de seis anos e resolvia todo com simplicidade. Tinha vivido boa parte de sua vida na rua, e ali aprendeu a falar tudo ao <<vesre>>, todos os chamavam de Lleca, rua (calle em espanhol) ao revés. Sabia pouco de si mesmo. Que tinha sido encontrado por um grupinho de <<bepis>> (pibes ou pivetes em português)  com os que andava quando tinha apenas dois anos –um pouco mais ou um pouco menos- e que desde então tinha vivido na rua...
 Essa é sua história. Ponto. Simples. Como se criou sem ter nada, não sentia falta de nada. Não lamentava nenhuma perda nem a ausência de um pai ou uma mãe. Depois de tido, nenhum de seus <<gomias>> tinha um pai ou uma mãe. Sua única preocupação era evitar a policia ou os assistentes sociais, que terminariam o levando para um orfanato. E ainda, tinha uma vida resolvida. Sobreviver na <<lleca>> (calle ou rua em português), para ele não era um problema, era algo fácil. Simples. A única coisa que o inquietava, e que às vezes lamentava, era não ter um nome. Ele era Lleca, e estava bem, ele adorava ser Lleca. Era popular e querido, e defendido pelos maiores. Ser Lleca significava ter um mundo, ser o negociador o que conseguia tudo, o que inventava. Mas não tinha um nome. Todos em seu grupo tinham um, mas não usavam. O <<Bicho>>, mesmo que ninguém o chamava assim, se chamava Martín. O <<Fúria>> se chamava Ramón, mas não gostava, preferia que o chamassem de Fúria. Estava Tito, que se chamava Robertito; estava Pancho, que se chamava Francisco. Todos tinham um nome, menos ele. Um dia aconteceu o mais temido: estava dormindo em um beco quando chegou a polícia com um assistente social e o levaram para um juizado. Do juizado o levaram a um instituto de menores, e do instituto de menores a um orfanato. E daí o tinham transferido a outro instituto se não tivesse usado sua astúcia. Nesse orfanato tinha um garoto mais velho, de uns dez ou onze anos, loiro e muito brigão. Esse garoto também não tinha nome, o chamavam de Tacho. Lleca se aproximou dele e conseguiu que ele falasse com ele, já que Tacho não falava com ninguém. Poucos dias depois ficou sabendo que seu silencioso companheiro iria ser transferido para uma fundação. E então entendeu que essa era sua chance. Umas horas mais tarde, Tacho chegava com Justina na Fundação BB. Quando Bartolomé foi abrir o porta-malas do carro para tirar as malas de Tacho, se encontrou com   o pequeno Lleca, que sorridente e com um pouco de malícia lhe disse: E aí cara, tudo liso? E Barto, confundido e divertido, respondeu: -Muito liso, tchê. E você que é? –Lleca- respondeu ele com simplicidade. Rapidamente, Bartolomé pediu a tutela desse pequeno sem vergonha, e ali ficou sabendo de que ele não tinha nome. – Isso nós temos que consertar tchê. Vamos te colocar um nome, pivete. Vamos ver, escolhe você, de qual você gosta? Mas Lleca, com uma determinação inusitada para um garoto de seis anos, se negou a receber qualquer nome. Ele tinha certeza de que sua mãe, ao dar a luz, tinha colocado um, e ele só usaria um nome no dia que descobrisse o seu.

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