"A Mansão Inchausti"
Parte 2
Cinco anos depois da expulsão de Carlos María, Bartolomé já era o senhorio da casa. Justina fantasiava em segredo com ele e o que fariam juntos com esses milhões, mas uma notícia inoportuna deu adeus as suas fantasias bem rápido. –Vou me casar, tchê- disse com Bartolomé com simplicidade, como se tivesse feito um comentário sobre o clima. –Perrrrdão?- exclamou Justina, quem marcava muito os erres, abrindo seus enormes olhos pretos. –Sim, vou me casar- repetiu Bartolomé sem dar mais detalhes. E o concretou com uma rapidez que fez Justina suspeitar das verdadeiras razões de sua tão rápida decisão...
Seus temores se confirmaram sete meses mais tarde, quando Ornella deu à luz a seu bebê, que chamaram de Thiago. Era 24 de agosto de 1991. –Tem o sinal dos Inchausti- afirmou Justina ao ver o pequeno bebê que, de verdade, tinha um pequeno sinal em uma bochecha. Bartolomé era Inchausti por parte de mãe. O casamento de Bartolomé, e depois o nascimento de seu filho, entristeceram muito a Justina, cuja obsessão pelo seu senhor aumentava de hora em hora. Mas ela se mantinha fiel a ele e aos seus planos, e concordou em interceder por ele falando com a velha Amalia, mesmo ela estando prostrada em uma cama há um tempo, continuava com o controle absoluto de tudo o que acontecia na casa. Justina assegurou a ela que Ornella era uma garota de muito boa família, e a tia Amaila esteve finalmente concordando com a ideia de que eles vivessem em sua mansão. Mas apesar do que aparentava ser, desde o dia que chegou até o dia que saiu, Ornella teve em Justina uma inimiga intransigente.A vida correu sem novidades por um tempo. O pequeno Thiago crescia feliz na mansão, e o amor de Justina por Bartolomé aumentava sua infelicidade, juntamente com a impaciência de seu senhor. –Essa velha não morre mais!- murmurava Bartolomé. –E sim, tem a saúde de ferrrrro essa desgraçada. Pode levar anos...- O que você está me sugerindo, Justin?- perguntou Bartolomé com vontade de que Justina sugerisse isso que ele não se animava a fazer. –Não sugiro nada, meu senhorrrrr. Digo que a mãe dessa velha, a finada Rosa María, morreu aos 102 anos... São de carretel cumprido. –A minha vida vai embora esperando!- se queixou Bartolomé. E seu descontentamento se repetiria até que se sentisse satisfeito.
Mas ele não teve que esperar muito. Um dia do mês de julho de 1996 a tragédia bateu a borta mais uma vez da família Inchausti: seu primo Carlos María faleceu em um acidente de trânsito. A notícia devastou a velha Amalia. Fiel ao seu estilo, não podia amar bem os seus enquanto estivessem vivos, só os amava quando morriam. E a trágica e inesperada morte de seu filho quebrou a velha Inchausti até sua doença. Bartolomé estava quase na glória: seu primo morto, já quase não havia entre ele e a fortuna de sua tia, só restava esperar que a velha batesse as botas. Mas, aconteceu algo fora do cálculo todo: sua tia, desolada e doente, entendeu tarde a importância da família, e pediu a Bartolomé que encontrasse a sua nora e a sua neta. Ao não ter se casado nunca com seu filho, ficavam excluídas da herança, e Amalia queria reparar essa injustiça antes de morrer. Claro que Bartolomé prometeu a ela encontra-las, e com grande desgosto a informava cada dia que as buscas eram inúteis. – Como se a terra as tivesse engolido, tchê! - exclamava Bartolomé, com sua melhor cara de circunstância. –Nenhum rrrrrrastro! Mais difíceis de encontrar que cova na nurrrsery –continuou Justina, amante das metáforas mortuárias. Amalia Inchausti suplicava que redobrassem os esforços. Ela facilitava todo o dinheiro que eles precisassem para encontra-las, dinheiro que, claro, era gastado em perfumes originais e vinhos espumantes com os que Bartolomé brindava a fortuna que estava por vir. Enquanto isso, a culpa e a tristeza agravaram a doença da velha. Era só uma questão de dias. –Tudo caminha sem problemas, Justin. Acabo de falar com o médico pessoal da velha, ele disse que lhe resta apenas algumas horas... Hoje, mais tardar amanhã, a velha morre, e os milhões são ours! Os dias passavam sem novidades, até que uma noite fria e chuvosa de agosto tirou alguma coisa da rotina da mansão. Justina amava as tempestades, mas Bartolomé as temia. Mas, essa noite pensou que uma boa tempestade era o marco ideal para que a velha batesse as botas. Estavam na cozinha, planejando o que fariam com os milhões, quando alguém tocou a campainha. Nesse precioso momento a chuva ficou mais forte. Quando Justina abriu a porta, deu de cara com uma garota de 10 anos, que chorava. Era Ángeles Inchausti. E mais atrás estava sua mãe, Alba, a empregada, a viúva de Carlos María. A mulher estava grávida, a ponto de dar a luz. Com suas últimas forças pediu ajuda, e desmaiou.
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